sexta-feira, 5 de junho de 2009

Aluga-se floresta


Cerca de 100 mil hectares da Amazônia passam às mãos da iniciativa privada pelos próximos 40 anosTATIANA DE MELLO

O terreno é enorme, equivale a 96 mil hectares. O contrato de seu aluguel tem um valor astronômico: R$ 3,8 milhões por ano ao longo de quatro décadas. O imóvel em questão está encravado na Floresta Amazônica, com vista panorâmica para o rio Jamari, e promete muito lucro àqueles que conquistaram o direito de explorá-lo comercialmente na licitação do Ministério do Meio Ambiente: as empresas Alex Madeiras, Sakura e Amata (dividirão o aluguel). O projeto de alugar para a iniciativa privada trechos da mata nasceu quando Fernando Henrique Cardoso era presidente da República, virou lei no governo Lula e finalmente começou a ser colocado em prática na semana passada. As empresas que ganharam a licitação poderão extrair madeira, desde que tenham um plano racional de manejo que garanta a preservação, sendo que, a cada 500 árvores, uma poderá ser extraída. No contrato também estão previstas a extração de óleos e sementes, a promoção de atividades de ecoturismo e esportes, além da criação de empregos.
As empresas não poderão explorar o patrimônio genético nem praticar mineração e caça. Assim, reunindo todos esses fatores, venceram o leilão do Ministério as três companhias que apresentaram o maior lance de aluguel e o melhor plano de redução do impacto ambiental. Mesmo com algumas contrapartidas, elas ainda terão um lucro quase seis vezes maior do que o valor que pagarão. Os R$ 3,8 milhões anuais serão repartidos entre municípios, Estados e União e aplicados, segundo o governo, na fiscalização e no monitoramento da Amazônia. “Esta concessão vai mostrar que é possível sobreviver com dignidade sem destruir a floresta”, diz o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a concessão florestal não implica transferência da posse da terra pública, mas sim a delegação onerosa do direito de praticar o manejo florestal sustentável na área.

Harvard ataca Google




Estudo da universidade americana diz que o maior site de buscas da internet gera emissão de poluentes e é um dos vilões do aquecimento globalLuciana Sgarbi
A cada toque no teclado, os computadores aumentam a emissão de gases poluentes na atmosfera da Terra agravando o maior problema ambiental que enfrentamos: o aquecimento global. Mais precisos, rápidos, eficientes, menores e imprescindíveis nos dias de hoje, muitos deles consomem uma quantidade maior de energia à medida que são aprimorados e, consequência inevitável, superaquecem e precisam ser refrigerados. Dispositivos internos e automáticos de refrigeração cumprem essa função, mas, em contrapartida, gastam ainda mais energia, formando dessa maneira um círculo vicioso que sai caro à natureza. "Nosso cotidiano está pleno de armadilhas. Procurei desarmar pelo menos uma", diz o físico Alex Wissner-Gross, da Universidade de Harvard, nos EUA. Ele coordenou, entre outros estudos, uma série de pesquisas sobre o impacto ambiental provocado pela utilização do Google, a maior ferramenta de busca da internet. Os resultados aos quais chegou explodiram na semana passada nos principais jornais do mundo: "Duas buscas no Google geram tantos gases quanto ferver água numa chaleira elétrica. Parece pouco, mas multiplique isso por 200 milhões de buscas diárias feitas em todo o planeta. O desastre é enorme e está feito", diz Wissner-Gross.
Na Universidade de Harvard ele descobriu que uma busca típica no Google em um computador de mesa (consome menos energia que um notebook) gera cerca de sete gramas de dióxido de carbono. Valendo-se de equipamentos que medem o consumo médio de energia a cada comando dado em um computador, Wissner- Gross chegou a suas conclusões. "A chaleira emite cerca de 14 gramas de dióxido de carbono, o equivalente a dois cliques para realizar uma pesquisa." O Google é um dos sites mais rápidos do mundo e é justamente nessa excelência de serviço que mora o problema: a sua eficiência e a rapidez só são possíveis porque ele utiliza diversos bancos de dados ao mesmo tempo - como aciona mais fontes simultaneamente, produz mais dióxido de carbono em relação a outros sites que lhe fazem concorrência, mas não dispõem da mesma agilidade e quantidade de informações.
Nos dias de hoje usamse computadores para tudo. No campo ambiental, por exemplo, eles são vitais a um rigoroso monitoramento de devastação das florestas. Ironicamente, porém, ele próprio atua como um predador. A empresa de consultoria Gartner Group revela que o setor é responsável por 2% de todas as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. O estudo ainda afirma que, caso nada seja feito, essas emissões tendem a crescer na casa dos 5% ao ano. Preocupado com essas questões, o Google lançou a versão "verde" do seu site de buscas. Chamado Blackle, ele possui fundo preto e isso economiza o equivalente a 14 watts por acesso. Não é suficiente para anular a alta emissão de poluentes, mas o próprio Google dá o caminho: "Se cada um fizer a sua parte, podemos salvar o planeta."

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Estranhas criaturas no mar


Exposição mostra, pela primeira vez, peixes que vivem nos mais profundos abismos dos oceanos

Luciana Luciana Sgarbi

No mar, há cerca de dez mil metros de profundidade, existem formas de vida que estão mais para ETs do que para peixe. Mas são peixes. E a maioria deles emite luz. Há lulas transparentes, medusas gigantes, filhotes com cerca de sete metros de comprimento. Esses seres vivem em condições extremas nos abismos oceânicos, com ausência total de luz e sob toneladas de pressão atmosférica, em temperaturas médias de 20 graus centígrados negativos. Na semana passada, uma equipe de oceanógrafos alemães do Museu de História Natural Senckenberg, em Frankfurt, valeu-se de um dos mais modernos submarinos do mundo para capturar algumas espécies e trazêlas à tona – aquelas que são consideradas mais raras foram filmadas, desenhadas e montadas fielmente em laboratórios, enquanto uma ínfima parte do grupo que segue proliferando normalmente acabou mesmo sacrificada. Crime ambiental? Maldade? Não. É vital mostrar pela primeira vez aos olhos humanos esses seres que até hoje haviam sido observados somente pelos cientistas. Montou-se assim em Frankfurt a exposição Tiefsee, que oferece ao visitante um passeio virtual pela escuridão abissal dos mares, correspondente a quase 70% da biosfera do planeta e, contraditoriamente, uma das áreas menos conhecidas do globo. A mostra ocupa um espaço de mil metros quadrados, distribuídos em dois andares, e nela são apresentados 45 animais e 35 modelos especialmente reproduzidos para o evento. Não há peixes vivos porque nenhum deles sobrevive fora de seu (para nós, inóspito) habitat. “Os organismos não podem ser levados, sob as mesmas condições de alta pressão, do fundo do mar até um aquário”, diz o biólogo marinho Michael Türkay, diretor de zoologia marinha do Instituto de Pesquisas Senckenberg. Imagine, por exemplo, um filhote de cerca de sete metros de comprimento. Pois bem, esse é um bebê cachalote de profundos abismos marítimos – enquanto um cachalote comum, desses que conhecemos e que vivem na superfície da água, na fase adulta mede no máximo três metros de comprimento, o bebê abissal, quando cresce, chega a 18 metros. Há outras grandes atrações na mostra: o peixebola (Himantolophus albinares) possui forma arredondada, corpo elástico e consegue engolir outros animais que tenham até duas vezes o seu tamanho. Já o peixe diabo-negro (Melanocetus johnsonii) atrai sua presa com falsa isca, uma saliência luminescente que ele agita sobre a cabeça. A fêmea chega a 18 centímetros, mas o macho cresce somente até três centímetros. O diabomarinho (Linophryne arborífera), presente no Atlântico, Índico e Pacífico, tem dentes pontudos e órgãos que brilham na testa e sob a boca. Outra estranha criatura é o peixe-ogro (Anoplogaster cornuta), cujos dentes descomunais impedem que ele feche completamente a boca – mas, quando morde a presa, pobre dela. “Durante muito tempo os biólogos acreditaram que era impossível haver vida em grandes profundidades marinhas”, diz Türkay. “Hoje sabemos que ela existe e temos também a certeza de que há outros animais jamais observados.”

foto1 - Peixe Ogro: dentes afiados o impedem de fechar a boca

foto 2 - RARIDADE Na mostra, há baleia gigante (no alto) e peixes com antenas para atrair suas presas

Por que o tempo está louco?


O país é o mesmo. O dia, mês e ano também. Brasil, 28 de abril de 2009. No Rio Grande do Sul o índice de chuvas está 96% abaixo do que seria normal neste período. A taxa de umidade despencou para menos de 20%, enquanto o saudável é praticamente o dobro. Tudo é seca e insolação. Brasil, 28 de abril de 2009. No Piauí os moradores enfrentam as piores cheias dos últimos 25 anos. Chove sem parar.
Cidades estão ilhadas. Cerca de 100 mil pessoas ficaram desabrigadas. "O tempo anda louco", eis a frase leiga e padrão que mais se fala e mais se ouve na queixa das pessoas em relação às radicais discrepâncias climáticas. Vale para o Norte e Nordeste do País, vale para a região Sul também. A mais nova e polêmica explicação para tais fenômenos trata de uma revolucionária teoria sobre as chuvas, chamada "bomba biótica", e pode mudar os conceitos da meteorologia tradicional.
Olhemos agora, por exemplo, não para a "loucura do tempo" em um único país, mas, sim, para a "loucura a dois". Por que chove tanto em algumas regiões distantes da costa, como no interior da Amazônia, enquanto países como a Austrália se transformaram em deserto? Os cientistas russos Victor Gorshkov e Anastassia Makarieva, do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo, sustentam, embasados na metodologia da bomba biótica, que as florestas são responsáveis pela criação dos ventos e a distribuição da chuva ao redor do planeta - como uma espécie de coração que bombeia a umidade. Esse modelo questiona a meteorologia convencional que explica a movimentação do ar sobretudo pela diferença de temperatura entre os oceanos e a terra.
Ao falarem de chuva aqui e seca acolá, Gorshkov e Anastassia acabam falando de um dos mais atuais e globalizados temas: a devastação de matas. "São as florestas que trazem a umidade atmosférica para o continente. Destruir árvores modifica a direção dos ventos, tranca a entrada de umidade no continente e, no final, o transforma em deserto", dizem eles.
Para o biogeoquímico Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e principal proponente da linha da bomba biótica no Brasil, é somente ela que explica com clareza a contradição entre a seca e a aridez que estão minguando as lavouras na região Sul e as chuvas intensas que transbordam o Norte e o Nordeste. "O primeiro efeito da devastação das florestas é o aumento na frequência de todo tipo de clima extremo", dizem os pesquisadores russos. "São os sintomas de um sistema desregulado", endossa o brasileiro Nobre.
A dinâmica do processo começa pela transpiração das árvores e consequente liberação de alto volume de vapor d'água. Ao subir, esse vapor encontra camadas de ar frio e se condensa, formando nuvens. É nessa condensação que a água passa do estado gasoso para o líquido, diminuindo de volume, e o ar acima das florestas se torna mais rarefeito, gerando queda da pressão atmosférica.
Nesse ponto a bomba biótica, segundo seus defensores, entra em ação. A queda na pressão acima das florestas faz com que o ar de superfícies vizinhas seja puxado em direção a elas, e isso resulta em ventos. Se estiverem próximas ao mar, o ar úmido resultante da evaporação do oceano é puxado para o continente, possibilitando a circulação de água ao redor da Terra. Segundo Gorshkov e Anastassia, a evaporação de água é mais intensa acima das grandes matas que nos mares e a queda de pressão superior no continente sugaria o ar úmido do mar.
"O efeito da evaporação e da redução da pressão atmosférica acima das florestas na circulação do ar é muito pequeno", diz o professor americano David Adams, da Universidade do Estado do Amazonas - ou seja, é uma voz contra a teoria dos físicos russos, que, segundo ele, estão supervalorizando a força da bomba biótica.
Agora uma voz que lhes dá pelo menos o benefício da reflexão por parte da comunidade científica. Vem do climatologista José Antonio Marengo, do Inpe: "Precisamos considerar a viabilidade da tese, estudar mais o fenômeno para definir quão crucial é o papel da bomba biótica na circulação do ar." Se for provada a correção da nova teoria, isso torna o papel das florestas ainda mais essencial para o bem-estar do planeta. Enquanto a meteorologia convencional prevê que o desmatamento reduza as chuvas de uma região em cerca de 20%, a bomba biótica prega que tal redução pode bater na casa dos 100%. "Destruir a Amazônia, por exemplo, significa transformar todo o continente num insuportável e inabitável deserto", diz Gorshkov.

foto: A TEORIA DA BOMBA BIÓTICA Os físicos russos afirmam que as árvores são responsáveis pela distribuição dos ventos e formação da chuva
"As florestas podem mudar drasticamente o clima de uma cidade"

Victor Gorshkov, físico

Será o fim da mata atlântica?

Um dramático alerta foi lançado na semana passada a partir de dados colhidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Fundação SOS Mata Atlântica. Os especialistas constataram que, no atual ritmo de desmatamento das florestas no Brasil, restam apenas 40 anos de sobrevivência para a Mata Atlântica. Inaceitável, assustadora, essa possibilidade também é reforçada pelo crescente impacto do aquecimento global. As projeções estão lá no Atlas dos Remanescentes Florestais, divulgado pelas duas instituições . Por ele é possível verificar que o ritmo de destruição avança à proporção de 34 mil hectares por ano desde 2000. Estados como Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul estão hoje com menos de 10% de floresta remanescente de sua cobertura original. Em números percentuais cada um tem, respectivamente 8,38%, 9,68% e 7,31%. Na situação mais dramática está o Estado de Goiás, onde a devastação corre solta, e o percentual de mata remanescente é pouco mais de 3,5%. É algo lamentável para um país que quando foi colonizado pelos portugueses em 1500 apresentava todo o seu litoral recoberto pela Mata Atlântica. Agora só restam 7,9% do total. O Brasil ainda é tido como o pulmão do mundo dada a sua biodiversidade. Mas os recursos não são infindáveis. Se nada for feito, com a completa participação da sociedade, as consequências para a sobrevivência humana em todo o planeta serão imensuráveis. Já neste momento dezenas de espécies animais, nativas do Brasil, estão entrando em extinção [...]. É um triste revés a se registrar justamente quando o mundo comemora a Semana do Meio Ambiente e Ecologia. Mas essas datas servem, didaticamente, para despertar a consciência sobre o valor dessa riqueza e para, quem sabe, motivar um multirão geral pelo resgate ecológico. Somente interrompendo esse processo de devastação podemos sonhar com um amanhã para os nossos filhos, netos e futuras gerações. Depende também de você.
Carlos José Marques, diretor editorial.

Istoé, 3 de junho de 2009, n° 2064.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Filhote de onça morre após sofrer queimaduras em canavial

Equipe de veterinários de Assis tentou reanimar bicho.
Onça foi encontrada com ferimentos na cabeça e nas patas.

m filhote de onça parda encontrado com queimaduras em um canavial morreu durante a madrugada desta terça-feira (2) em Assis, a 434 km de São Paulo. O filhote, com cerca de 40 dias, teve princípio de uma infecção generalizada e estava desidratado. Uma equipe de veterinários tentou reanimar o bicho até a madrugada desta terça-feira.


A onça foi localizada na segunda-feira (1º) com ferimentos graves na cabeça e nas patas. As queimadas, tanto na zona rural quanto na zona urbana, são crimes ambientais. Colocar fogo na cana-de-açúcar só é permitido com licença da Cetesb, e durante a noite.

Favelas do Rio vão mesmo ter muros para proteger as áreas verdes que precisam ser preservadas.

A reunião a portas fechadas foi no Palácio Guanabara. No início da noite, o governador Sérgio Cabral recebeu lideranças comunitárias para discutir sobre a construção do muro.

Durante uma hora de encontro, o governador falou detalhes do projeto, que deve ser adaptado a outros investimentos na comunidade. A reunião terminou em consenso,

Uma das alterações do projeto é a inclusão de espaços de convivência além de trilhas ecológicas pavimentadas. O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, que era contra o muro, mudou de ideia.

“Nas áreas de maiores riscos, poderá ser feito o muro, sem problema. Junto com isso vem outros benefícios, vem a Super upa, vem um parque ecológico, pavimentação das ruas, saneamento em torno, então eu creio que está encerrada a polêmica, porque concordamos com as propostas deles e eles concordaram com as nossas”, disse o presidente da Associação de Moradores, Antonio Ferreira de Melo.

“Eles trouxeram um detalhamento de um projeto de mureta com caminho, que a gente vai usar certamente, nos espaços que isso for possível, aonde não for possível, a gente vai usar o muro, porque vai ser mais adequado”, explica o diretor de obras públicas, José Carlos Pinto.

Na Rocinha, os operários já trabalham no terreno há 12 dias. O muro terá dois 2,8 quilômetros de extensão e vai passar nas laterais e na parte de trás da comunidade. Ao todo serão construídos 14 quilômetros de muro em 13 favelas. Na comunidade Santa Marta, em Botafogo, a construção começou em março.

“É um muro para preservar a Mata Atlântica, e sobretudo, para preservar as pessoas que lá moram e que vão ter a garantia de que a sua comunidade está preservada e os investimentos feitos, pelo estado, pela prefeitura, pelo governo federal, ficarão”, diz o governador Sergio Cabral.

Governo é aliado da destruição da Amazônia

Adam Bourscheit
31/05/2009 22:00


Depois de três anos vasculhando informações sobre as ramificações da pecuária nacional, a organização não-governamental Greenpeace acumulou dados suficientes para lançar o relatório A farra do boi na Amazônia. Além de constatar que a criação de gado na região vem provocando a maior onda de desmatamento do globo, a entidade mostra a total ambigüidade entre discursos e ações governistas quando o assunto é preservação da maior floresta tropical do planeta.
Conforme o Greenpeace, o governo brasileiro fomenta a destruição da Amazônia quando destina pesados investimentos diretos e linhas de financiamentos a atividades que provocam desmatamento, além de manter baixa presença do poder público, tanto no fornecimento de serviços básicos quanto em fiscalização contra ilegalidades. Tudo isso concentra a expansão da pecuária na região, onde a falta de “governança” significa terra e mão-de-obra baratas. Em área média anual, a Amazônia brasileira tem a maior taxa mundial de perdas florestais.
A entidade elaborou o estudo a partir de fontes oficiais de dados, com a ajuda de informantes em governos e empresas, seguindo caminhões, realizando sobrevôos, analisando imagens de satélite e muito bibliografia. “Do boi não se perde nada, se aproveita tudo. A cadeia de produtos tem uma complexidade incrível, com o couro figurando como um co-produto da pecuária de grande peso no mercado internacional. Mas, o mais surpreendente, é a quantidade de subprodutos e setores envolvidos. Até pó de extintor de incêndio é fabricado com chifres e cascos de bois moídos, enquanto glândulas são exportadas para laboratórios farmacêuticos na Suíça”, contou André Muggiati, especialista da campanha Amazônia do Greenpeace.
Em quase 30 páginas, o documento relembra fatos divulgados pela imprensa para mostrar que os esforços dos órgãos ambientais e os discursos governistas são mero “verniz verde” frente aos aportes de dinheiro em atividades econômicas baseadas no desmatamento da floresta. Como exemplo, 85% dos US$ 41 bilhões (mais de R$ 80 bilhões) liberados pelo governo em julho do ano passado, para o Plano Agrícola e Pecuário 2008/09, foram destinados à agricultura industrial, diz a ong. Graças a esse tipo de “investimento”, a pecuária é responsável por oito em dez hectares desmatados na Amazônia brasileira.
Ainda de acordo com o relatório, o governo é “sócio” em várias empreitadas que contribuem para a degradação da floresta. Isso acontece com os apoios do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concedidos a empresas do ramo da pecuária. Desde 2007, empresas responsáveis por mais da metade das exportações brasileiras de carne receberam US$ 2,65 bilhões do banco, em troca de ações para o governo brasileiro. Os frigoríficos Bertin, JBS e Marfrig ficaram com a maior parte do dinheiro público, informa o documento não-governamental. O IFC, braço de empréstimos privados do Banco Mundial, também investiu US$ 90 milhões em um projeto do Bertin. O frigorífico foi multado em julho passado em mais de R$ 3 milhões, por estocar madeira nativa sem licença.
“A participação societária do governo nessas empresas mostra uma grande contradição, pois enquanto apresenta metas para reduzir o desmatamento em negociações internacionais sobre mudanças climáticas, investe pesadamente na ampliação da atividade dessas empresas na Amazônia. Não era surpresa o fato de que esses grupos estimulavam a devastação da floresta, no entanto o governo segue investindo nesses setores, contrariando o interesse da população, que é o da proteção da Amazônia. Isso é escandaloso”, ressaltou Muggiati.
O Brasil possui cerca de 200 milhões de cabeças de gado, o maior rebanho comercial do mundo, e é o maior exportador de carne. Divide com a China a liderança na exportação de couro curtido. Não satisfeito, o governo quer dobrar a participação brasileira no comércio global de carne na próxima década. Ano passado, o comércio de gado no Brasil movimentou US$ 7 bilhões, e o couro representou mais de um quarto desse valor.
Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, anuncia com freqüência que o Brasil se tornará o maior produtor e exportador mundial de itens do agronegócio. Para abocanhar uma fatia cada vez maior do mercado global, o governo vem disponibilizando recursos públicos para expandir o processamento de produtos pecuários na Amazônia. Todavia, o Brasil tem entre cem e 150 milhões de hectares (quase o tamanho do Amazonas) em pastagens degradadas, que poderiam ser aproveitadas para produção. Até o momento, o governo não apresentou nenhum plano para sua recuperação e uso.
Em abril, Carlos Minc (Meio Ambiente) prometeu negociar com o BNDES uma linha de financiamento específica para ajudar a reerguer frigoríficos abalados pela crise econômica. Assim, empréstimos teriam “cláusulas ambientais” e a fiscalização nos abatedouros aconteceria em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Minc também quer uma moratória para a carne ilegal (boi pirata), nos mesmos moldes da moratória da soja, que desde 2006 envolve produtores e exportadores de grãos no compromisso de não comercializar soja de áreas desmatadas da Amazônia. A indústria da exportação vem adiando um acordo.

Comércio de olhos vendados

Depois de rastrear a cadeia de comércio dos produtos da pecuária na Amazônia, o Greenpeace descobriu que marcas conhecidas mundialmente também alimentam o desmatamento com suas compras. Isso ocorre a partir de centenas de fazendas envolvidas em desmatamento ilegal e até trabalho escravo que figuram na lista de fornecedores de gado para os frigoríficos Bertin, JBS e Marfrig. Em seguida, seus produtos são processados em outras regiões do país, com a mistura de produtos legais e ilegais, permitindo uma “lavagem” ao longo da cadeia comercial, até chegarem à exportação.
Empresas famosas como Adidas, BMW, Carrefour, EuroStar, Ford, Honda, Gucci, IKEA, Kraft, Nike, Unilever, Colgate/Palmolive, Johnson & Johnson, Tesco, Toyota, Wal-Mart, Gucci, Timberland e tantas outras compram produtos brasileiros elaborados com desmatamento ilegal, trabalho escravo, invasão de áreas protegidas e terras indígenas. Fornecedores do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido e no Oriente Médio, cujos clientes incluem as forças militares britânica, holandesa, italiana, espanhola e norte-americana, também adquirem produtos da pecuária amazônica. As nações que mais compram são China, Estados Unidos, Itália e Reino Unido. Isso tudo sem descartar o consumo interno crescente no Brasil, onde os supermercados Carrefour, Wal-mart e Pão de Açúcar controlam quase 40% das compras do setor.
“Esperamos que essas empresas deixem de comprar produtos da pecuária amazônica com origem duvidosa. Não se pode afirmar que este ou aquele item tem carne ou couro ilegais, afinal, a cadeia produtiva permite a mistura de produtos “sujos” e “limpos”, mas também não se pode garantir que não tem. E se nós conseguimos rastrear a comercialização, o governo também pode, pois tem ferramentas mais eficientes. Para o gado, já existe um sistema de rastreabilidade oficial, mas ele precisa de ajustes e também contemplar variáveis sociais e ambientais. Consumidores em todo o mundo querem saber se os produtos que compram provocam desmatamento ou se são elaborados com trabalho escravo”, ressaltou Muggiati.
O Ministério Público Federal entrará com ações civis civil públicas contra 22 fazendas que não respeitaram o embargo imposto pelo governo e seguiram com pecuária e outra cobrando danos morais em favor da sociedade brasileira por toda a degradação ambiental provocada pela criação de gado na Amazônia. Também enviou notificações para 72 empresas, incluindo as grandes redes de supermercados, informando-as que, se persistirem na compra de produtos pecuários de origem duvidosa, poderão ser processadas.
O Plano Nacional de Mudanças Climáticas foi apresentado na conferência climática de Poznàn (Polônia), no ano passado, com o compromisso de reduzir em 72% o desmatamento, até 2018. Para atingir essa meta, o país deve obrigatoriamente acabar com o desmatamento ilegal. Conforme o Greenpeace, entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono estão estocados na Amazônia. Logo, destruí-la liberaria o equivalente a 50 vezes as emissões anuais de gases-estufa dos Estados Unidos, comenta o relatório da entidade.
O trabalho do Greenpeace também chega em um momento crítico para as florestas nacionais, pois grupos organizados no parlamento e dentro do governo se articulam para derrubar leis apontadas como entraves ao agronegócio e aprovar outras legislações que, na prática, anistiarão quem desmatou ilegalmente e reduzirão as salvaguardas das matas brasileiras.
Ministério da Agricultura e associações brasileiras de Supermercados (Abras) e da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) foram procuradas pela reportagem, mas não se pronunciaram sobre o relatório não-governamental.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Afinal, o que é sustentabilidade?

Luiz Carlos Cabrera
Revista Você S/A – 05/2009

Sustentabilidade é a palavra que mais se ouve e se lê por aí — na administração, na economia, na engenharia ou no Direito. Mas, afinal, o que significa sustentabilidade? Como bom mentor, vou tentar explicar de forma simples o conceito que já faz parte da vida moderna. Em primeiro lugar, trata-se de um conceito sistêmico, ou seja, ele correlaciona e integra de forma organizada os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade. A palavra-chave é continuidade — como essas vertentes podem se manter em equilíbrio ao longo do tempo.
Quem primeiro usou o termo foi a norueguesa Gro Brundtland, ex-primeira ministra de seu país. Em 1987, como presidente de uma comissão da Organização das Nações Unidas, Gro publicou um livreto chamado Our Common Future, que relacionava meio ambiente com progresso. Nele, escreveu-se pela primeira vez o conceito: “Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem as próprias necessidades”. Note que interessante: a proposta não era só salvar a Terra cuidando da ecologia, mas suprir todas as necessidades de gerações sem esgotar o planeta. “Nem de longe se está pedindo a interrupção do crescimento econômico”, frisou Gro. “O que se reconhece é que os problemas de pobreza e subdesenvolvimento só poderão ser resolvidos se tivermos uma nova era de crescimento sustentável, na qual os países do sul global desempenhem um papel significativo e sejam recompensados por isso com os benefícios equivalentes.”
Parece que Gro Brundtland adivinhava a crise recente das economias do norte e já salientava o papel dos países emergentes, como Brasil, China e Índia. Para você, vale lembrar que a sustentabilidade se aplica a qualquer empreendimento humano, de um país a uma família. Toda atividade que envolve e aglutina pessoas tem uma regra clara: para ser sustentável, precisa ser economicamente viável, socialmente justa, culturalmente aceita e ecologicamente correta. O desafio é enorme, envolve várias gerações e, por isso, você precisa estar ligado no tema.

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Descubra como fazer da sustentabilidade uma visita bem vinda em todos os cantos da sua casa!
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Reciclagem de celulares

Débora Spitzcovsky
Planeta Sustentável - 01/05/2009

Os aparelho celulares já são, praticamente, item de necessidade básica entre a população mundial. Mas o que fazer com esse pequeno objeto, que causa grandes impactos ambientais, depois que ele perde a utilidade? O IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas está promovendo uma campanha para que eles tenham um destino mais nobre do que a lata de lixo ou o fundo da gaveta.
A iniciativa quer incentivar as pessoas a levarem os aparelhos celulares – e, também, baterias e carregadores sem utilidade – para postos de coleta e reciclagem que foram colocados em todas as lojas Vivo.
A ideia é revender os eletrônicos para os fabricantes e, assim, seguir a dinâmica do processo de logística reversa. Segundo o IPE, apenas com os aparelhos que já foram recolhidos nos postos de coleta, foi possível reciclar centenas de toneladas de metais e plásticos, que retornaram ao mercado para a produção de novos produtos.
O dinheiro arrecadado com as revendas ainda será destinado a projetos socioambientais, que visam a conservação da fauna e da flora brasileiras, além da preservação das nascentes dos rios. As iniciativas fazem parte dos projetos “Mico-leão-da-cara-preta”, “Mico-leão-preto” e “Nascentes Verdes Rios Vivos”, todos do IPE.
Celulares de todos os modelos e operadoras podem ser depositados nos mais de 3.400 postos de coleta. É preciso, apenas, verificar se os aparelhos estão desligados e, em seguida, preencher as duas vias do termo de doação.

Vivendo de brisa - Fábricas da Ferrari e da BMW aderem às energias solar e eólica

Fabiano Pereira
Revista Quatro Rodas – 04/2009

Ainda não chegou o dia de vermos uma Ferrari movida a eletricidade.
Porém, já é possível notar o empenho da marca para economizar esse tipo de energia na fábrica de Maranello. Seu recém-instalado sistema de painéis fotovoltaicos (1075 módulos da Mitsubishi Electric) vai reduzir o consumo em 213 985 kWh ao ano. Ainda em 2009, a Ferrari produzirá por conta própria quase toda a eletricidade necessária na fábrica, reduzindo as emissões de CO2 entre 25% e 30%.
A iniciativa do uso de energia solar é semelhante às já anunciadas para as fábricas da Opel, Nissan e Seat, todas na Espanha. Em sua fábrica americana de Spartanburg, a BMW deu início a um estudo sobre a viabilidade de usar energia eólica.

Para isso, já instalou duas torres móveis de 15 metros que avaliam a força dos ventos na região. Hoje, 63% da energia da fábrica vem do gás metano reciclado do aterro local e, desde 2003, economiza de mais de 1 milhão de dólares ao ano. Na Land Rover, a energia eólica usada na produção anual de 100 000 motores reduz em 3 000 toneladas as emissões de CO2.

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL...

- FIAT Investiu no fim dos resíduos químicos. Cada carro gera 210 kg de resíduos, 93% dos quais são reciclados. Reaproveita 92% da água usada.
- FORD Em Camaçari (BA), há tratamento natural dos efluentes sanitários, controle de resíduos sólidos e emissões atmosféricas e reflorestamento do entorno.
- HONDA Mantém uma estação de tratamento de água e outra de efluentes, de até 30 m3/h, visando à futura reutilização da água tratada.
- PEUGEOT E CITROËN Hoje 85% dos resíduos produzidos em Porto Real (RJ) são reaproveitados. A unidade possui tratamento próprio de efluentes.
- RENAULT E NISSAN No complexo industrial de São José dos Pinhais (PR), aproveita-se a água de chuva e, com a borra do tratamento de efluentes, serão produzidos tijolos.

Só colaborando - Com a ajuda de muitos, sairá do papel um projeto que tenta mudar o mundo quarteirão por quarteirão

Denis Russo Burgierman
Revista Vida Simples - 01/05/2009

Você já deve ter ouvido falar da Wikipedia, a enciclopédia na internet com que qualquer um pode colaborar - escrevendo verbetes, corrigindo erros, acrescentando informações. No começo ela era incompleta e cheia de erros, mas conseguiu atrair gente suficiente para tapar os buracos. Hoje dá para dizer que ela é a melhor enciclopédia do mundo. Não é perfeita, claro. Mas, se você parar para pensar, ela é uma baita novidade: um empreendimento sem dono, sem patrocinador, sem apoio de governo, que conseguiu produzir uma ótima enciclopédia.
Muito legal. Mas, aqui entre nós, enciclopédias não mudam o mundo. A questão é: será que a colaboração pela internet um dia vai ser capaz de mudar o mundo concretamente? Tem um monte de projetos interessantes procurando uma resposta para essa pergunta. Um dos mais incríveis chama-se Re:Vision. O objetivo do Re:Vision é construir colaborativamente um quarteirão em Dallas, no Texas, de uma forma totalmente inovadora e sustentável. A ideia é começar com um quarteirão, torcendo para que ele vire uma espécie de modelo para um novo jeito de pensar a cidade, e que influencie cidades inteiras por todo o mundo.
Enfim: inventar um novo modelo de cidade. Construir um quarteirão de verdade é bem mais complexo que escrever uma enciclopédia. Para possibilitar a tarefa, o primeiro passo foi quebrá-la em pedaços mais simples: energia, transporte, comércio, planejamento urbano, construção, arquitetura e processo. Para cada um desses temas, houve um concurso, do qual qualquer pessoa do mundo, arquiteto ou não, podia participar mandando ideias pela internet. O Re:Vision foi então escolhendo as melhores de cada tema e dando prêmios de 2 mil dólares para elas. Alguns exemplos de ideias que chegaram: um playground que gera energia com a brincadeira das crianças, um shopping center sem paredes feito de contêineres reciclados, um esquema urbano de microempréstimos.
O próximo passo é pegar as ideias que chegaram e somá-las para chegar a um projeto final, o que deve ocorrer até o fim do ano.
A expectativa é que o quarteirão esteja construído em 2012. A água será reaproveitada, a energia produzida lá mesmo, haverá uma horta comunitária, um sistema local de educação sustentável e muitos espaços comuns para comércio e lazer. Será um quarteirão voltado para dentro, mas também conectado ao resto da cidade. E haverá tanto casas grandes para os ricos quanto casas pequenas para os pobres - tudo de uma maneira que seja sustentável também economicamente (ou seja, é importante que o projeto, além de visionário, seja viável financeiramente).
Não espere que a solução para os problemas do mundo venha dos governos ou das grandes empresas. Ela virá de gente legal conectada com mais gente legal conectada com mais gente legal.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pressão pesqueira reduz vida nos oceanos a um nível "insustentável", dizem cientistas

da Efe, em Toronto
26/05/2009 - 13h51

A abundância e tamanho dos animais marítimos se reduziram de forma alarmante nos últimos séculos devido à atividade humana, chegando a um nível "insustentável". A informação provém de um grupo de cientistas marítimos que fará parte de uma conferência internacional em Vancouver, no Canadá.
A conferência "Past II" analisará, nesta terça-feira (26), as pautas de mudança nos ecossistemas marítimos, as razões econômicas e sociais, assim como as consequências das alterações, exemplos históricos de recuperação de ecossistemas e o desenvolvimento de estudos de história do ambiente. A reunião ocorre até a próxima quinta-feira.
A "Past II" é organizada pelo programa de História das Povoações Animais Marinhas do Censo da Vida Marinha que em outubro de 2010 apresentará o primeiro compêndio de todas as formas de vida que existiram e existem nos oceanos.
Poul Holm, professor do Trinity College de Dublin e diretor do programa de História das Povoações Animais Marinhas, em declarações à Efe lançou o alarme antes do início da conferência.
"Claramente alcançamos o máximo do que os oceanos são capazes de produzir. Precisamos sair dessa situação extrema porque o que estamos fazendo é que para manter essas capturas estamos pescando peixes cada vez menores --o que é insustentável", afirma.

Greenpeace: gado de desmatamento ilegal é consumido mundialmente

Do Globo Amazônia, em São Paulo

A ONG Greenpeace lança nesta segunda-feira (1º) relatório que afirma que a carne e o couro produzidos em áreas de desmatamento recente e ilegal na Amazônia são vendidos mundialmente.
A organização ambientalista chama de ‘consumo cego’, a compra de produtos que ajudam a promover a destruição da floresta. Para mostrar que o gado produzido à custa de irregularidades ambientais chega a lugares tão distantes como a Ásia, a organização rastreou milhares de notas fiscais e guias de transporte.
Os documentos apontam, por exemplo, a negociação de gado oriundo de terra indígena e áreas embargadas pelo Ibama por excesso de desmatamento com grandes frigoríficos exportadores.
A cadeia produtiva que absorve o gado “pirata” se estende até a Europa, a Ásia e a América do Norte, onde o couro é usado, segundo o Greenpeace, para a produção de calçados, bancos de couro para automóveis, entre outros produtos. A carne é revendida por cadeias de supermercados mundo afora.
“Antes de exportar, os frigoríficos da região amazônica embarcam carne ou pele para fábricas processadoras a milhares de quilômetros de distância no sul do país. Em diversos casos, processamento adicional é realizado nos países importadores antes que o produto final chegue ao mercado”, detalha o Greenpeace.
A organização critica o governo brasileiro por investir em grandes companhias do setor pecuário por meio do BNDES. “A expansão destes grupos é, efetivamente, um empreendimento conjunto com o governo brasileiro”, argumenta a organização ambientalista.


Minas Gerais é o maior desmatador da floresta atlântica

AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo

Uma área de mata atlântica de 103 mil hectares, equivalente a dois terços da cidade de São Paulo, foi desmatada no Brasil entre 2005 e 2008. O Estado campeão de desflorestamento foi Minas Gerais, pressionado pela produção de carvão. No período, perdeu-se 32,7 mil hectares de vegetação.
Além disso, a taxa anual de desmate permanece quase constante por oito anos --de 2000 a 2005 foram ceifados 34,9 mil hectares. De 2005 a 2008, foram 34,1 mil ha.
Isso mostra que a Lei da Mata Atlântica, aprovada em 2006, ainda não teve eficácia. Segundo a lei, o corte de vegetação primária e secundária só pode ocorrer em casos excepcionais, como para realizar projetos de utilidade pública.

Os dados de desmatamento, da ONG Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, referem-se a dez Estados, dos 17 que ainda têm o bioma. Atrás de Minas na lista de desmatadores estão Santa Catarina e Bahia. No ranking das cidades, as líderes de destruição são Jequitinhonha (MG), Itaiópolis (SC) e Bom Jesus da Lapa (BA).
O cenário é desanimador para a floresta que tem seu dia comemorado hoje. "Sinaliza que o poder público não tem priorizado o tema. É preciso melhorar a fiscalização", afirma Marcia Hirota, diretora da ONG SOS. Ela defende, inclusive, que os Estados adotem metas de redução do desmate.
A área original do bioma está reduzida a 11,4%, se considerados os fragmentos de floresta acima de 3 hectares --quanto menor a área, mais difícil é a sobrevivência das espécies. Mas, se apenas fragmentos com mais de cem hectares forem levados em consideração, o remanescente cai para 7,9%.
Em Minas, a região mais desmatada fica na divisa com o cerrado. E, de acordo com Mario Mantovani, também diretor da ONG, sua destruição está relacionada à exploração de carvão vegetal para a siderurgia.
O IEF (Instituto Estadual de Florestas), órgão ambiental de Minas Gerais, afirma que a pressão sobre as florestas nativas decorrem da "expansão agropecuária e do consumo ilegal de carvão vegetal". Porém, segundo o IEF, de 2003 até 2009 foram aplicados R$ 98 milhões no monitoramento e fiscalização ambiental da área.
Santa Catarina foi criticada por aprovar recentemente lei que prevê redução da faixa de preservação ao longo de rios. "Essa é a ponta de um grande problema, com décadas de desobediência civil e do desmonte do órgão ambiental", disse Mantovani. A Folha procurou a Secretaria do Desenvolvimento Econômico Sustentável de SC, mas não teve resposta.